terça-feira, 8 de novembro de 2011

Civilidade não faz mal a ninguém, pelo contrário faz um bem.

Assim que tomou o lugar do regime monárquico, os republicanos se preocuparam em estabelecer novos símbolos que tivessem a função de representar a transformação política acontecida no final do século XIX. Já em janeiro de 1890, o governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca lançou um concurso visando a oficialização de um novo hino para o Brasil. Com isso, o Teatro Lírico do Rio de Janeiro foi palco da disputa que acabou sendo vencida por José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros e Albuquerque (1867 – 1934) (letra) e Leopoldo Miguez (1850 - 1902) (música).

Atuando como professor, jornalista, escritor e político, Medeiros e Albuquerque teve uma formação intelectual privilegiada, estudou na Escola Acadêmica de Lisboa e teve, no Brasil, o folclorista Silvio Romero como seu preceptor. No meio político foi um grande entusiasta do ideal republicano e, quando o novo regime se instalou, Medeiros e Albuquerque assumiu alguns cargos públicos e administrativos do novo governo.


Já Leopoldo Miguez saiu cedo do Brasil e, já nos primeiros anos de vida, se dedicou aos estudos musicais na Europa. Em 1878, voltou ao Rio de Janeiro para abrir uma loja de pianos e música. Sendo professo defensor da República, recebeu auxílio para retornar para a Europa e ali concentrar informações sobre a organização de institutos e conservatórios musicais. Em 1889, fora nomeado como diretor e professor do Instituto Nacional de Música.


Mesmo ganhando a disputa, o hino formado por esses renomados artistas acabou não sendo utilizado como o novo hino do país. Em um decreto de janeiro de 1890, o governo brasileiro estipulou que a criação fosse empregada como sendo o Hino de Proclamação da República. Desse modo, a composição acabou sendo conservada como um dos mais significativos símbolos que representam a proclamação do regime republicano brasileiro.


No ano de 1989, a escola de samba Imperatriz Leopoldinense comemorou o centenário da República utilizando uma parte do refrão do Hino em seu samba enredo. Muito pouco utilizado em solenidades oficiais, esse hino precisa ser resgatado como um dos mais significativos símbolos de nosso regime político. Segue abaixo a letra para aqueles que tiverem interesse em contemplar o seu conteúdo.

Letra: Medeiros e Albuquerque
Música: Leopoldo Augusto Miguez

Seja um pálio de luz desdobrado.
Sob a larga amplidão destes céus
Este canto rebel que o passado
Vem remir dos mais torpes labéus!
Seja um hino de glória que fale
De esperança, de um novo porvir!
Com visões de triunfos embale
Quem por ele lutando surgir!


Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!


Nós nem cremos que escravos outrora
Tenha havido em tão nobre País...
Hoje o rubro lampejo da aurora
Acha irmãos, não tiranos hostis.
Somos todos iguais! Ao futuro
Saberemos, unidos, levar
Nosso augusto estandarte que, puro,
Brilha, ovante, da Pátria no altar!


Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!


Se é mister que de peitos valentes
Haja sangue em nosso pendão,
Sangue vivo do herói Tiradentes
Batizou este audaz pavilhão!
Mensageiros de paz, paz queremos,
É de amor nossa força e poder
Mas da guerra nos transes supremos
Heis de ver-nos lutar e vencer!


Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!


Do Ipiranga é preciso que o brado
Seja um grito soberbo de fé!
O Brasil já surgiu libertado,
Sobre as púrpuras régias de pé.
Eia, pois, brasileiros avante!
Verdes louros colhamos louçãos!
Seja o nosso País triunfante,
Livre terra de livres irmãos!


Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós!
Das lutas na tempestade
Dá que ouçamos tua voz!
 

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