Por TÚLIO VELHO BARRETO*
Após ser escolhida a terceira melhor jogadora de futebol feminino do mundo por duas vezes, a atacante Marta venceu as cinco últimas edições da eleição da FIFA.
A eleição, que está apenas em sua décima edição, é realizada junto a representantes dos mais de duzentos países filiados à entidade.
Trata-se de recorde absoluto entre homens e mulheres. Na mesma pisada, outra jogadora da seleção, Cristiane, ficou, por duas vezes, em terceiro lugar.
No plano coletivo, a seleção brasileira feminina também tem obtido sucesso.
Foi quarto lugar nos dois primeiros torneios entre seleções femininas em Olimpíadas.
Nas edições seguintes, bateu na trave e conquistou a medalha de prata após prorrogações contra os Estados Unidos.
Atualmente, nossa seleção é bicampeã panamericana e vice-campeã mundial.
E é exatamente o título da Copa do Mundo na Alemanha, que começa domingo, mas tem recebido cobertura inferior à Copa América, o novo desafio de Marta e da seleção brasileira.
Mas todas as conquistas são bem recentes.
E por uma razão: o enorme preconceito contra a participação feminina em um esporte tido, aqui e em muitos países, como exclusivamente masculino.
O preconceito, que pretendeu – e conseguiu durante quase cem anos – excluir as mulheres do esporte mais popular do mundo, contribuiu para que elas ficassem quase ‘invisíveis’ também nessa importante prática social. E não ocupassem os espaços públicos.
De fato, criado por homens na Inglaterra, em 1863, o moderno futebol chegou ao Brasil no final do século XIX.
Assim como na Inglaterra, aqui o futebol também se estabeleceu como espaço masculino e elitista.
Só deixou de ser um esporte de elite quando incorporou jogadores negros e adotou o profissionalismo.
Mas isso não significou o fim de todos os preconceitos. Persistiu ainda o controle dos homens sobre o esporte.
Tal fato ocorreu não por falta de interesse e iniciativas das mulheres.
Por exemplo, em 1892, na Escócia, houve a primeira partida entre times femininos.
Em 1895, a primeira entre seleções da Inglaterra e Escócia.
No Brasil, há indícios de partidas entre mulheres em 1908-09.
Mas o primeiro registro histórico de uma disputa entre times femininos é de 1921, em São Paulo.
Logo depois a mulher passaria a ser só espectadora. O que tamb m não durou muito apesar do substantivo ‘torcedor/torcedora’ derivar do ato de as mulheres torcerem seus lenços e chapéus durante partidas de futebol.
A iniciativa de excluir as mulheres de um espaço social e público, que os homens consideravam seu, foi transformada em lei pelo governo brasileiro em 1941.
Em pleno Estado Novo, Getúlio Vargas editou o Decreto Lei 3199, que criou o Conselho Nacional do Desporto. Nele, pode-se ler: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”, entre eles o futebol.
Era uma espécie de apartheid, embora as mulheres resistissem, criassem times quase clandestinos e praticassem futebol sem caráter competitivo.
O Decreto Lei resistiu à redemocratização de 1946 e foi ratificado pelo regime militar em 1965.
Só foi revogado em 1979.
Tais fatos mostram que tais restrições apenas davam vazão ao machismo, socialmente aceito, criando também no futebol uma reserva de mercado de trabalho masculino ao mesmo tempo em que ‘condenavam’ mulheres-jogadoras ao espaço privado da casa e da família.
É tal realidade que, no passado, as pioneiras e, hoje, Marta, Cristiane e tantas outras buscaram vencer.
Além de encantar com seu futebol, superar tal estado de coisas é uma de suas muitas lutas, que deve ser encampada por toda a sociedade.
*Túlio Velho Barreto é cientista político da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e vice-coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Sociologia do Futebol (Nesf-UFPE/Fundaj).
NOTA DO AUTOR DO BLOG
Infelizmente na cidade de Lorena houve um grande regresso em relação ao futebol femininno, onde a cidade já figurou na 1ª divisão do Campeonato Paulista em 2008 e hoje não joga nem a 2ª divisão.
O investimente é quase zero e para os Jogos Regionais 2011 contrata um time de fora para representar a cidade.
Onde estão as meninas da cidade? Pergunto e respondo, elas estão jogando nas cidades vizinhas que, mesmo com pouco investimento conseguem bons resultados.
A política esportiva, em relação ao futebol feminino na cidade de Lorena se encontra desse jeito. Sem incentivos, sem investimento de base, sem nada... E não precisa muito para trazer essas meninas de volta, mas só boas intenções não bastam. Basta um pouco de vontade e de parcerias sérias.
2 comentários:
Jogo Futsal, e ainda vejo muito preconceito, falta de patrocinadores.. oportunidades..
jogo a 7anos, e ainda num tive oportunidade de joga foraa.. do meu estado.. :/..
Tou procurando clube hein..
jogo como pivô.
Olá André, gostaria primeiramente de parabeniza-lo pelo seu blog...
Infelizmente a realidade de nossa linda cidade é essa, não oferecer e investir em profissionais que existe nesta linda cidade...
Um dia isso muda....
Parabens...
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